Operários da construção civil foram a categoria profissional estudada
Por ACS/ A. R. em 12/08/2016A dissertação de mestrado apresentada pelo aluno de Mestrado Strictu Sensu do Programa de Pós-Graduação da Fundacentro, José Antonio Botelho de Araújo teve como principal finalidade analisar a percepção do trabalhador após sofrer um acidente de trabalho, tendo como categoria escolhida, os operários da indústria da construção civil de São Luís do Maranhão.
Engenheiro de Segurança e Psicólogo, José Botelho atua na área da Psicologia no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, o IFMA.O trabalho apresentado pelo engenheiro foi além da citação de dados sobre acidentes do trabalho, mas procurou compreender do ponto de vista do trabalhador, a percepção que ele (trabalhador) tem após sofrer um acidente. “O meu trabalho revela um descaso com a saúde do trabalhador. O viés sociológico permitiu revelar o lado do trabalhador, de exclusão social, de exclusão de suas vontades, a partir do momento em que sofre um acidente de trabalho”, destaca Botelho.Na pesquisa intitulada: “Repercussões do acidente de trabalho na saúde e condições de vida dos operários da indústria da construção civil subsetor de edificações em São Luis-MA”, o autor inicia a pesquisa remetendo às grandes construções, edificações grandiosas que fazem parte da história das civilizações, até o ano de 1700, momento em que Bernardo Ramazzini lança o clássico As Doenças dos Trabalhadores.Em um outro momento do trabalho, o autor destaca a construção no Brasil colônia e mais adiante, a construção civil no Brasil nos séculos XIX , XX e XXI.Após uma análise de como se deu a construção no País, o aluno constrói o alicerce de sua pesquisa na organização do trabalho, no sentido do trabalho, na subjetividade do trabalho e no prazer e sofrimento no trabalho.Mas é após toda a contextualização no início do trabalho que Botelho entra no que ele chama de “realidade do trabalhador acidentado”. É aqui que o trabalho ganha dimensões sociológicas com a entrevista de 13 trabalhadores que sofreram acidentes do trabalho. Desses 13, apenas 1 retornou às suas funções.Botelho utilizou como metodologia, enfoque qualitativo que buscou compreender as vivências do trabalhador da construção civil sob a temática do acidente de trabalho (antes, durante e depois), bem como pesquisa documental realizada junto à Superintendência Regional do Trabalho do Maranhão, Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de São Luis-MA e Cerest de São Luís.A percepção do trabalhadorPara que o pesquisador pudesse chegar às falas dos trabalhadores foram utilizadas algumas categorias que não obedeceram a sequencia do roteiro de entrevista. Entre essas categorias fazem parte, a empresa no contexto do acidente do trabalho, acesso aos serviços públicos de direito do trabalhador, condições de vida e de saúde antes e depois do acidente e familiares envolvidos.A percepção do trabalhador após o acidente de trabalho teve, além do aspecto físico de mutilação ou deformação do corpo, os significados, a explicação do acidente e depoimentos que envolvem grandes cicatrizes emocionais.Os participantes assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, não sendo revelados os nomes dos trabalhadores, bem como o sigilo de informações.Perda da individualidadeAs considerações finais da dissertação apresentada mostram que além das vidas serem prematuramente modificadas após o acidente de trabalho, os trabalhadores perdem a individualidade e o controle sobre diversos aspectos da vida.Deficiências físicas, fisiológicas, incapacidade para exercer outra atividade, a ausência de perspectivas futuras, o adoecimento psíquico, revelam alguns dos problemas enfrentados no dia-a-dia desses trabalhadores. “O discurso dos trabalhadores revela o trabalhador como uma mercadoria e jogados à mercê da própria sorte”, enfatiza Botelho.Para Botelho, o descompromisso das empresas e as dificuldades de acesso do trabalhador, somadas à ausência de políticas públicas que garantam proteção preventiva dos trabalhadores, fiscalização e cobrança, ação proativa dos sindicatos, organização dos serviços prestados pelo Estado e a criação de programa de suporte e acompanhamento às famílias, coloca o trabalhador como “vítima de um sistema que o obriga a trabalhar em situações e condições perigosas” (as aspas referem-se ao trecho extraído da própria dissertação).A Banca ExaminadoraA Banca Examinadora de José Botelho foi composta pelos convidados, José Roberto Montes Heloani, doutor em Psicologia Social e Carlos Sérgio da Silva, doutor em Química, sob orientação de Laura Soares Martins Nogueira, doutora em Desenvolvimento Sustentável Trópico Úmido.Para o professor Heloani, o trabalho de Botelho foi construído de maneira séria e focada, utilizando frases contundentes do sujeito, do indivíduo e da família. “O trabalho revelou maturidade intelectual com conceitos pertinentes, além da relevância social”, destacou o professor.Já o professor Carlos Sérgio, ponderou que a legislação é anacrônica deixando o trabalhador sem proteção e citou casos de empresas europeias que investem no Equipamento de Proteção Coletiva (EPC).
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