Destaco trechos de O capital no Antropoceno, de Kohei Saito, Editora Boitempo, 2024.
O autor critica o chamado keynesianismo climático segundo a qual o crescimento econômico apoiado em estratégias de baixa emissão de CO2, por exemplo carros elétricos que substituíssem carros movidos a gasolina (combustível fóssil), resolveria a crise climática. A crítica do autor chama a atenção para a falácia desse argumento uma vez que a escolha embute a externalização de impactos ambientais e outros para a periferia do capitalismo.
Os trechos que escolhi.
"“[...] em 2019, mais de 10 mil cientistas defenderam que ‘as mudanças climáticas estão intimamente ligadas ao consumo excessivo de estilos de vida ricos’ e apelaram para que haja mudanças drásticas nos mecanismos econômicos existentes.” P 56
A substituição de todos os carros a gasolina por carros elétricos – keynesianismo climático - não é solução para a crise climática.
“A chave aqui é a bateria de íons de lítio [...] essenciais [...] para carros elétricos [...] o lítio fica concentrado nas águas subterrâneas (no Salar do Atacama) [...] é extraído bombeando salmoura [...] em lagos salgados e evaporando a água. [...] a mineração do lítio é sinônimo de extração de águas subterrâneas.” P 58
“[...] o cobalto, que também é essencial para baterias de íons de lítio [...] a mineração em grande escala e sua expansão para satisfazer a procura global estão causando danos ambientais no Congo [...] há também a questão das más condições de trabalho. No sul congolês, existe um tipo de trabalho escravo e infantil conhecido como creuseur (mineradores) [..] Eles extraem cobalto manualmente, usando ferramentas primitivas como cinzéis e marretas de madeira. Algumas crianças têm apenas 6 ou 7 anos de idade e o salário é de apenas cerca de 1 dólar por dia.” P. 58-9.
“[...] os equipamentos de segurança não são adequados para as operações de mineração em túneis perigosos. Muitas vezes, os mineiros passam até 24 horas no subsolo e trabalham respirando substâncias tóxicas que causam problemas de saúde, como doenças respiratórias, cardíacas e mentais. Na pior das hipóteses, um acidente pode fazer com sejam enterrados vivos. Isso chegou a ser condenado internacionalmente devido à morte de crianças.” P 59 (esse último parágrafo inclui links abaixo
A leitura do livro é recomendada.
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