A revista médica The Lancet publicou Editorial abordando os ataques que estão sendo cometidos pelo governo Trump contra a saúde e a Medicina.
Fórum AT publica abaixo uma versão traduzida do Editorial e anexa a versão original do texto.
Profissionais de saúde e pesquisadores do mundo são alertados para a necessidade de reagir a esses ataques.
Caos americano: defendendo a saúde e a medicina
The Lancet – Editorial – Fevereiro de 2025
(tradução livre e pequenos destaques)
Retirada da OMS (Organização Mundial da Saúde) e do Acordo de Paris. USAID (“Agência de Ajuda Internacional dos Estados Unidos”) fechada e a ajuda interrompida, cessando, de forma global, programas de saúde. Congelamento de 3 bilhões de dólares em subsídios federais e empréstimos, comprometendo o funcionamento do Medicaid*.
Uma interrupção significativa nas principais atividades em todo o Nacional Institute of Health (o maior instituto de pesquisas biomédicas do mundo). Negação de diversidade de gênero. Apagões de comunicações, que levaram, por exemplo, à não publicação do Relatório Semanal de Morbidade e Mortalidade, algo que acontece pela primeira vez em 60 anos.
As ações de Donald Trump internamente e globalmente não são uma reavaliação ponderada das prioridades dos EUA. Elas são um ataque abrangente e prejudicial à saúde do povo americano e daqueles que dependem da assistência externa dos EUA. Elas também são um ataque à saúde da comunidade de pesquisa. A capacidade de trabalho dos investigadores foi severamente limitada ou totalmente interrompida. A liberdade de expressão está restrita. O uso de certos termos está proibido em sites governamentais dos EUA (e em manuscritos submetidos para revistas científicas), incluindo “gênero”, “transgênero”, “LGBT” e “não binário”. Além disso, existe uma determinação de pausa na submissão de novos trabalhos para publicação para todos os funcionários e contratados. do CDC (Centro de Controle de Doenças).
Na The Lancet, o impacto já foi sentido. Os revisores estão diminuindo e os autores se autocensuram. As instituições de saúde estão hesitando criticar publicamente a nova administração, mas essa timidez é um erro. As ações de Trump devem ser denunciadas pelos danos que estão causando.
O congelamento de 90 dias da ajuda dos EUA, incluindo fundos para o Plano de Emergência do Presidente para o Alívio da AIDS – mesmo com uma isenção para “programas humanitários que salvam vidas” – deixaram os serviços no limbo, especialmente no que diz respeito à prevenção do HIV e populações-chave. Estas não são preocupações abstratas.
Muitos profissionais de saúde foram demitidos, clínicas fecharam e os pacientes foram afetados. Elon Musk ligou a USAID ao “mal”, uma “organização criminosa”, propagando falsidades numa tentativa de justificar a destruição, se não a abolição completa, desta agência. Estas decisões estão profundamente erradas. Como consequências de longo alcance existirão impactos que atrasarão décadas de ganhos no controle de doenças e na equidade na saúde.
As ações de Trump são um ataque particular à saúde das mulheres, principalmente saúde sexual e de direitos reprodutivos.
O progresso gradual que vinha sendo realizado em relação ao clima e à saúde agora, provavelmente, vai parar ou até reverter. Mais pessoas ficarão doentes e mais pessoas vão morrer.
Este momento é um teste. Como deve a nossa comunidade reagir? O resultado imediato foi confusão, perturbação e desorientação, mas a resposta não pode ser ditada pelo medo ou pela resignação. É preciso foco, estratégia e – de fato – esperança. Nem todas as determinações executivas de Trump sobreviverão a desafios legais. Algumas ordens (de Trump) foram atenuadas ou ajustadas graças à ação da sociedade civil, jornalistas, denunciantes do governo e alguns membros do Congresso que têm falado abertamente sobre os danos imediatos. O setor de saúde, as comunidades médica e científica têm um papel vital na defesa de seus pacientes, defendendo programas, políticas e instituições que sejam boas para a saúde e o bem-estar.
Apoio bipartidário para a saúde e afins nos EUA deu lugar a uma polarização profunda, e a comunidade global de saúde deve enfrentar este fato de que os EUA não são um parceiro confiável. Como Ilona Kickbusch aponta em um comentário nesta edição, outros estados membros terão necessidade de financiar e construir uma organização que seja adequada para os desafios à frente.
A comunidade de saúde, muitas vezes, já superou enormes obstáculos antes para proporcionar significativas contribuições para o bem-estar da humanidade. Essas experiências trouxeram uma visão sobre o que é saúde e o que ela pode ser. Que todos têm direito à saúde. Que a saúde dos americanos depende da saúde de todos, em todos os lugares – e vice-versa. Essa cooperação e parcerias construtivas são vitais, e que a ciência tem a capacidade não apenas de avançar nossa compreensão do mundo, mas também para unir as pessoas. Que a saúde é um bem social, benéfico para as sociedades, um motor de economias e um caminho para o desenvolvimento. Esse remédio pode ajudar as pessoas em seu nível mais baixo, aliviar o sofrimento e melhorar vidas.
Essa equidade – tratar de acordo com a necessidade – é fundamental para o que é a medicina. E que cuidar é um ato não de fraqueza, mas de força.
As últimas 3 semanas geraram muita raiva, medo, e tristeza – mas não é hora para pânico. A medicina e as comunidades científicas devem unir-se e defender-se pronto para esta visão. Nesse espírito, The Lancet será um ponto focal de responsabilização durante os próximos 4 anos, monitorando e revendo as ações do governo dos EUA e as consequências das suas decisões para a saúde.
The Lancet
www.thelancet.com
Vol. 405.- February 8, 2025
*(Autorizado pelo Título XIX do Social Security Act, o Medicaid foi sancionado em 1965 junto com o Medicare. Todos os estados, o Distrito de Columbia e os territórios dos EUA têm programas Medicaid projetados para fornecer cobertura de saúde para pessoas de baixa renda. Embora o governo federal estabeleça certos parâmetros para todos os estados seguirem, cada estado administra seu programa Medicaid de forma diferente, resultando em variações na cobertura do Medicaid em todo o paísinformação adicionada para compreensão do significado do Medicaid.gov). Fonte https://www.medicaid.gov/
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