Deu na "Le Devoir"
O tema me chamou a atenção. Na verdade eu não tinha visto nada semelhante antes, especialmente com a "apelação" usada no título.
Mas o fato é que a velocidade de mudanças no mundo do trabalho torna mesmo difícil de acompanhar o que está acontecendo.
E la nave va!
PB (Ildeberto)
tradução CHAT GPT
La fin du télétravail en 2025? (original em francês)
Sébastien St-Hilaire
L’auteur est gestionnaire de portefeuille chez Valeurs mobilières Desjardins pour le Groupe LMSL
Suspeito que, com um título como este, corro o risco de levar umas tomates. Na verdade, estou apenas reagindo às recentes decisões de empresas como a Amazon, que insistem para que seus funcionários voltem ao escritório. Essa tendência, recentemente exposta em um artigo da revista The Economist, reflete um crescente dilema entre líderes e trabalhadores sobre a visão do futuro do trabalho. Por que essa insistência? E, sobretudo, quais são as implicações para os empregados e as empresas?
Trabalhar em casa transformou radicalmente o cotidiano de milhões de funcionários. Redução de longos deslocamentos, melhoria da qualidade de vida, aumento da flexibilidade — essa transição permitiu a muitos recuperar o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. As economias em transporte, alimentação fora de casa e vestuário corporativo não são insignificantes. Para alguns, esse modelo até aumentou a concentração e otimizou a produtividade, longe das interrupções, do barulho típico dos escritórios e das conversas junto à máquina de café. Além disso, ao abrir vagas para regiões remotas, o trabalho remoto promoveu uma descentralização geográfica benéfica tanto para os indivíduos quanto para as comunidades locais.
No entanto, essa transição teve seu custo. Para outros, o principal desafio é o isolamento social e a perda do vínculo humano. As interações espontâneas com colegas, essenciais para alimentar o senso de pertencimento e desenvolver redes profissionais, deram lugar ao isolamento. Uma frustração específica também surgiu: ir ao escritório para reuniões com colegas que, por sua vez, estão no virtual. Além disso, a fronteira difusa entre a vida pessoal e a profissional exacerbou o risco de esgotamento. E-mails fora do horário, a gestão simultânea de tarefas domésticas e profissionais — especialmente para pais e cuidadores familiares — aumentaram a pressão sobre as famílias.
A falta de equipamentos adequados e de um espaço de trabalho ergonômico é outra limitação do trabalho remoto para alguns empregados, destacando desigualdades. Ademais, ser notado à distância, participar de projetos estratégicos ou receber mentoria revelou-se mais complicado, penalizando especialmente os jovens profissionais. A "invisibilidade" imposta pelo trabalho remoto também freou as oportunidades de progressão na carreira. Paralelamente, as ferramentas de monitoramento digital introduzidas em algumas organizações podem piorar o clima de desconfiança, fragilizando o vínculo de confiança entre empregadores e empregados.
Se o debate sobre o retorno ao escritório voltou à tona, ele assume uma peculiaridade particular no Quebec, onde o modelo híbrido continua amplamente preferido. Segundo uma pesquisa da Léger para a Concilivi, uma iniciativa da Rede para um Quebec Família, 58% dos funcionários quebequenses têm acesso a esse modo de trabalho. No entanto, quase metade notou um endurecimento das políticas, com um aumento nos dias presenciais para 22% deles e 24% sendo "convidados" a comparecer ao escritório, embora sem obrigatoriedade. Empresas como Hydro-Québec e o Mouvement Desjardins parecem ter encontrado um equilíbrio, exigindo de dois a três dias por semana no escritório, mas mantendo certa flexibilidade.
Essa transição para o presencial tem, contudo, repercussões econômicas notáveis, especialmente nos centros urbanos. Em Montreal e Quebec, a taxa de disponibilidade dos edifícios de escritórios atingiu níveis historicamente elevados. A diminuição da presença de trabalhadores afeta diretamente a vitalidade econômica dessas áreas, gerando desafios para o comércio local e os proprietários de imóveis.
Mas há outra questão decorrente dessa lógica capitalista. Se a presença física no escritório se torna menos essencial, o que impediria as empresas de serviços de deslocarem sua força de trabalho para regiões onde os custos são mais baixos, como Índia, Romênia ou alguns países da África? O trabalho remoto, ao reduzir a importância da proximidade geográfica imediata, acelera essa dinâmica. Empregos em programação, atendimento ao cliente ou análise de dados poderiam migrar massivamente para essas regiões, onde os salários são consideravelmente mais baixos.
As repercussões sociais de tais decisões seriam significativas. Localmente, veríamos uma polarização ainda maior no mercado de trabalho. De um lado, trabalhadores qualificados ocupando cargos estratégicos bem remunerados; de outro, uma erosão das oportunidades para empregos intermediários. Em escala global, essa redistribuição de tarefas poderia intensificar as desigualdades Norte-Sul. Embora contribua para o crescimento econômico de algumas regiões, também pode precarizar ainda mais os trabalhadores nos países desenvolvidos, alimentando tensões sociais e econômicas.
O Quebec reflete bem essas tensões globais, mas mantém uma perspectiva única. O modelo híbrido parece estar aqui para ficar, sustentado por empresas que ainda valorizam a flexibilidade. Porém, essa dinâmica não deve ser instrumentalizada para maximizar lucros em detrimento dos trabalhadores. Reimaginar o papel do escritório, proteger os empregos locais e navegar por essas tensões globais continuam sendo desafios essenciais para as organizações de hoje e de amanhã.
Nota da revista Le Devoir:
Este texto faz parte da nossa seção Opinião, que incentiva a pluralidade de vozes e ideias. Trata-se de uma coluna que reflete os valores e a posição de seu autor e não necessariamente os do Le Devoir.
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