A Net mostra acesso a imagens de grave acidente que aconteceu hoje em Rolândia, no Paraná.
Algumas delas poder vistas nos links abaixo
1. https://www.youtube.com/watch?v=SiRf0S-bbR0
2. https://www.youtube.com/watch?v=BRTLWupVRJc
Hoje vi também a apresentação deste caso no Jornal Hoje, da TV Globo. Inspirado no que viu nas imagens - e não refletindo sobre o que as imagens não mostram - o apresentador César Tralli terminou a reportagem afirmando com "indignação" tratar-se de caso de "evidente de irresponsabilidade do motorista" .
Para além do fato de mostrar um caminhão cruzando um sinal vermelho em passagem de nível em zona urbana, as imagens mostram um sistema em que a segurança é frágil por concepção, dependendo exclusivamente do comportamento do motorista de parar no sinal vermelho.
As noções de alça de controle da segurança e de características de barreira ideal ajudam a compreender a fragilidade do sistema. Não há nenhuma informação sobre o que ali naquele sistema força o motorista a aderir à ordem de parar, ou ao como o sistema checa a adesão dos motoristas à regra adotada.
Não há barreiras mecânicas que impeçam a invasão da área de circulação dos trens quando o sinal está fechado.
Entre outros elementos que precisam ser considerados na análise do evento está a análise da visibilidade do semáforo a partir da cabine do caminhão. Pelo vídeo, aparentemente não havia sinais de ofuscamento, mas é provável que a qualidade da imagem da Câmera da TV, esteja melhorando a nitidez da visão do sinal vermelho. As câmeras tem potencial para fazer isso..
Mas a análise prá valer exigiria ir além. A história mostrada nas imagens não conta nada sobre as atividades do motorista do caminhão, nem do condutor do trem. Também faltam informações sobre o controle do sinal de trânsito e sobre o histórico de funcionamento desse sinal naquele ponto.
Quem era o motorista? Há quanto tempo estava dirigindo? o que vinha ou estava acontecendo na cabine no período que precedeu ao acidente? Como estava o caminhão que ele dirigia? Em que consiste a condução habitual nas situações de aproximação de uma passagem de nível e daquela em particular [...]
O mesmo vale em relação ao(s) condutor(es) do trem. Qual era a velocidade que conduzia naquele trecho? O trem era dotado de algum sistema automático de redução da velocidade nas proximidades da passagem de nível ou era programado para passar ali na mesma velocidade dos demais trechos da via? Há quanto tempo a equipe estava conduzindo? como é a atividade habitual quando nas proximidades de uma passagem de nível? Havia alguma diferença na situação que precedeu ao acidente? Havia interferência de potencial ofuscamento? Como informa sua aproximação da passagem de nível naquele tipo de situação?[...]
Enfim, na minha opinião, a imagem do acidente é importante mas é claramente insuficiente para permitir afirmações tão peremptórias como a do apresentador. Aliás, ao escolher um culpado o jornalista deixa de buscar informações em profundidade sobre a segurança em passagens de nível e contribui para a continuidade de práticas como as que são mostradas no vídeo em que um sistema de grande perigo potencial continua funcionando, às vezes por anos, em condições de extrema precariedade como se tudo estivesse correto.
Com sistemas tão precários o de estranhar é que não tenhamos quantidade muito maior de acidentes e desastres. Que aliás não acontecem graças aos cuidados de seus operadores humanos que tendem a ser crucificados depois desse tipo de ocorrência.
PB (Ildeberto M de Almeida)
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