Deu no Outra Saúde
Como o conselho Federal de Medicina age para naturalizar crimes da pandemia
Conselho Federal de Medicina emitiu nota criticando o uso de máscaras para proteção contra a covid. Fato parece mostrar que o bolsonarismo está unido para tentar desvirtuar debate público – além de aliviar os crimes cometidos pelo ex-presidente Às vésperas do carnaval e imediatamente após o Brasil registrar oficialmente seu primeiro dia sem mortes por covid desde que a pandemia começou a matar no país, o Conselho Federal de Medicina desenterrou uma velha polêmica para gerar ruído: criticou o uso de máscaras em aviões e aeroportos. Ignorando seu uso já pacificado em outros países em contextos bem menos graves, além de todo um manancial de estudos, o órgão publicou nota na qual afirmava não haver motivos para o uso “indiscriminado” da medida. De forma cínica, a nota assinada pelo presidente José Hiran Gallo afirma que a medida “jamais pode ser imposta a pessoas que não compartilham de tais ideologias ou comportamentos”. Para esta autoridade médica de uma autarquia federal, uma política sanitária mundialmente aceita é “ideologia”. O órgão, caracterizado recentemente por sua fidelidade canina a Bolsonaro, usou como base teórica uma revisão sistemática do Centro Cochrane, tradicional instituto que faz análises randomizadas de estudos diversos. Em seu Instagram, a médica Luana Araujo desmantelou os argumentos do órgão e, apesar de reconhecer o valor do Centro Cochrane, avaliou como péssima a revisão de estudos, sem qualquer coerência metodológica. “São vários furos. O primeiro era avaliar o comportamento social na comunidade, com estudos randomizados, metanálise. Estudo randomizado controlado é ótimo para uma série de estudos, mas não comportamentos sociais. Só pode ser usado se partir de uma mesma pergunta em todos os estudos combinados, o que jamais aconteceu. O segundo furo é admitir que a filtragem e vedação de uma máscara N95 é igual à de uma máscara cirúrgica, e não é. Nem foram feitas pra mesma coisa. E o estudo não diferencia uso ocasional de uso contínuo, como ocorre na prevenção de covid, porque a transmissão se dá em qualquer hora e lugar. Isso é muito básico. Outro problema é que tais estudos costumam ter o chamado grupo-controle. Se quero saber se funciona ou não, faço o seguinte: dou máscara pra um grupo e não dou a outro. E aí eu consigo comparar. Não havia isso. A revisão sistemática tira resultados inexistentes”. Para além da má fé da autarquia médica, notoriamente partidária de um político cuja condução criminosa da pandemia foi responsável por um número estimado de 1.142.300 mortes, como levantado em reportagem recente do Outra Saúde, cabe debater se o órgão teria autoridade para emitir tal posicionamento. Não seria atribuição do ministério da Saúde e das respectivas secretarias estaduais e municipais definir pela conveniência do uso de máscaras pela população? |
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