A abertura de Fórum dedicado ao debates desses temas foi decidida durante debates do 68º encontro Presencial do Fórum que foi centrado em debates sobre rupturas de barragens da VALE no estado de Minas Gerais. Com foco em Barragens do Fundão (em que a VALE era sócia da SAMARCO), em Mariana e em Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho.
Iniciamos aqui registrando que o interessado nesse tema vai encontrar sugestões de leituras e opiniões aqui no nosso portal em diferentes espaços, com destaque para:
1. Módulo Encontro Presenciais, 2019. Ver 68º Encontro. Junto com a programação do dia estão disponíveis sugestões de leituras e vídeo que foram recomendados e ou disponibilizados pelos palestrantes convidados.
. Também estarão disponíveis arquivos de apresentações dos palestrantes (Álvaro Rodrigues dos Santos e Mário Parreiras). O Professor Leandro não usou arquivo em sua apresentação.
2. Canal Youtube do Fórum (https://www.youtube.com/user/ForumAcidentes) Nos próximos dias disponibilizaremos nesse espaço os videos da gravação do Encontro. As falas de coordenação, palestrantes e debatedores. Essas mesmas falas podem ser pesquisadas no Canal do IPT USP que transmitiu ao vivo o 68º EP do Fórum AT.
3. Facebook (https://www.facebook.com/F%C3%B3rum-Acidentes-de-Trabalho-225053440880575/): no dia do evento foram gravados depoimentos com palestrantes e presentes que foram transmitidos ao vivo e ficam disponíveis na página do Fórum AT
4. Módulo NOTÍCIAS. Nesse espaço o interessado pode acessar grande quantidade de postagens feitas em nosso portal sobre os desastres em Mariana e em Brumadinho. são notícias de jornais, links para debates promovidos em universidades e institutos de pesquisa, publicações e outros temas afins.
5. Publicações: também permite acesso a publicações de interesse, sejam específicas sejam sobre aspectos metodológicos de análises de desastres e ou estudos científicos sobre eventos similares.
6. Também recomendamos a esse respeito visita e exploraçao da página de disciplina oferecida pelo prof Ildeberto M de Almeida na Pós graduação do depto de Saúde coletiva da FAculdade de Medicina de Botucatu - UNESP (https://www3.fmb.unesp.br/sete/course/view.php?id=272)
Sejam bem vindos.
A participação neste Fórum, na forma de inclusão de comentários só é aberta a participantes cadastrados no Portal FórumAT. O acesso e leitura é aberto a todos.
Em postagem à parte enviarei comentário sobre os debates de ontem.
Paraíba (Ildeberto Muniz de Almeida)
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Fórum na TVT e video sobre trabalho da Fundação RENOVA
Fórum na TVT e video sobre trabalho da Fundação RENOVA
1. Cobertura da rede TVT sobre o encontro Presencial 68 do Fórum AT.
Acessem em Seu Jornal - 27/03/2019 http://www.tvt.org.br/seu-jornal-27032019/#.XJ7orKP0mUE.whatsapp
A reportagem começa aos 12minutos e 48 segundos e vai até 16'43"
Foram entrevistados convidados e presentes ao evento.
Gradei.
2. Documentário aponta farsa do trabalho da Fundação Renova
Vídeo mostra problemas de saúde nas comunidades atingidas e persistência do crime com a falta de soluções
Mais de três anos depois do crime socioambiental das mineradoras Samarco, Vale e BHP, não só a impunidade mas também os problemas nas comunidades persistem. Um documentário lançado nesta semana pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) aponta os problemas de saúde dos atingidos e a negligência do Estado e da empresa na atenção às vítimas do crime.
Com 16 minutos de duração e produção feita em parceria com o Brasil de Fato e a produtora Rupestre Filmes, a obra Renova: O crime é periódico mostra que os sintomas de problemas de saúde se reproduzem ao longo da Bacia do Rio Doce desde Mariana e Barra Longa (MG) até a foz do rio em Regência, norte do Espírito Santo.
Comentários sobre o 68º EP do fórum AT - Ildeberto
Comentários sobre o 68º EP do fórum AT - Ildeberto
Sobre o 68º Encontro Presencial do ForumAT, que discutiu o tema “Desastres feitos pelo homem: O caso das barragens de rejeitos da VALE”.
Coordenado pela professora Adelaide, da FSP-USP, tivemos três palestrantes (Mário Parreiras, Álvaro Rodrigues dos Santos e Leandro Luiz Giatti) cujas abordagens tiveram natureza complementar e apontaram temas de extrema importância para o debate dos interessados na prevenção de tragédias similares no Brasil.
Os arquivos das apresentações do Mário e do Álvaro já estão disponíveis no Portal (módulo Encontros Presenciais). Em alguns dias as gravações do evento estarão disponíveis no Canal Youtube. Atualmente já podem ser acessadas no canal IPTV USP.
O AFT Mário Parreiras mostrou caminhos das análises em que atuou e atua das rupturas de barragens do Fundão, da Samarco, Vale e BHP Billiton, em Mariana, em 2014 e da barragem do córrego do Feijão, da Vale S.A., em Brumadinho, em dezembro de 2018.
Para ele o acidente não é explicado pelos problemas técnicos e operacionais identificados nas análises. Em outras palavras, atrasos no preenchimento de espaços (base) de barragem, aceleração da velocidade de alteamento, atrasos na adoção de recomendações de prevenção, etc não são pontos terminais da análise. Precisam continuar sendo explorados de modo a esclarecer quem tomou essas decisões? Como? Sob quais constrangimentos ou pressões?
No caso de Brumadinho o mesmo se aplica também a decisões de contratadas como a TUV SUD que mudou critérios de tomada de decisão sobre a estabilidade de maciço descartando dados que se considerados poderiam ensejar decisões diferentes da adotada.
O momento ainda é de busca de acesso a informações que permitam esclarecer a construção social da maioria dos aspectos que a investigação vai identificando como parte da história dos desastres provocados pelas mineradoras no nosso país.
Em sua fala Mário destacou dificuldades encontradas na investigação seja pela pluralidade de aspectos técnicos envolvidos seja pela necessidade de construir alianças e conseguir apoios de instituições externas dispostas a participar nesse processo. Ele também destacou dificuldades encontradas na exploração da história da barragem do Córrego do Feijão. Do projeto inicial ao final do décimo alteamento ocorrido. A barragem tem mais de 40 anos, os alteamentos foram projetados e executados por diferentes empresas com processos decisórios cujos registros não são facilmente encontrados. Num dos alteamentos a barragem foi feita em “S” mudando características anteriores. A investigação já esclareceu que a mudança não teve projeto. A decisão estava ligada ao surgimento de acúmulo de água nas proximidades.
• As implicações da mudança para as características estruturais da barragem ainda precisam ser esclarecidas.
Parte dos aspectos que não puderam ser debatidos e persistem não esclarecidos se referem ao que aconteceu nos anos recentes pós Mariana.
• Houve mudanças em legislação a fim? Regras de licenciamento? Normas regulamentadoras?
• Estruturas reguladoras da atividade de mineração (agência nacional de mineração ou outras)?
Álvaro Rodrigues dos Santos destacou que o desastre não pode ser atribuído a problemas na formação e ou qualidade técnica dos profissionais de engenharia no país. Ele apontou mudanças históricas ocorridas no pais como fatores a serem considerados nas origens do desmonte das competências desenvolvidas na Engenharia de grandes obras do país e suas implicações nas origens de desastres.
Entre as mudanças destaque para o fato de que o “comando técnico perdeu espaço para o comando comercial nas frentes de obra”.
No passado, importavam a melhor engenharia e a segurança. Atualmente prevalecem redução de despesas e maximização de lucros. As pressões decorrentes do novo modelo de gestão atingem e fragilizam a segurança.
Esse aspecto dialoga diretamente com outros já registrados na literatura de acidentes sobre a necessidade de investigações que avancem na exploração de influências de processos como globalização e financeirização em políticas e práticas de gestão de segurança em empresas rede como a VALE, mas não só.
A contribuição do Álvaro atualiza a necessidade de aprofundamento de aspectos da investigação nessa direção. Afinal, mesmo depois do ocorrido em Mariana a Vale S.A. continuou reduzindo investimentos em manutenção e segurança de barragens e aumentando repasses financeiros a acionistas, valorizando lucros de curto prazo em detrimento da prevenção.
• Como foram feitas essas escolhas? Como afetaram a manutenção e a segurança na barragem do córrego do feijão? Como a terceirização, a gestão de contratos de terceiras etc influenciam as negociações entre os múltiplos interesses em disputa na continuidade dos negócios da mineração?
• Há muito ainda a ser feito para puxar esses fios da investigação.
Álvaro também registrou que a fiscalização não deve aceitar o argumento de empregadores que tentam dividir com ela a responsabilidade pela segurança. A responsabilidade pela segurança da obra é sempre dos seus proprietários.
Por sua vez Leandro destacou as noções de justiça e de exclusão cognitivas como processos que limitam as possibilidades de que populações vulneráveis, expostas a riscos possam ter protagonismo na construção da prevenção contra as ameaças que recebem. E também na construção de respostas aos desastres e às suas consequências imediatas e tardias.
Desastres como os de Brumadinho embutem “exclusão cognitiva” de suas vítimas ao longo de toda a sua (desastre) história. Trabalhadores e moradores da região afetada não puderam participar das decisões adotadas pela empresa em nenhum momento. Das escolhas estratégicas da empresa, por exemplo, de uso da construção de elevação a montante, de altear sucessivamente aumentando a energia potencial, o perigo embutido na barragem, passando pela decisão de construir e manter prédios administrativos e refeitório a jusante da barragem em condições em que não haveria tempo de evacuação em caso de rompimento chegando até a sistema regulador que considere aceitável nessas condições a mera declaração da empresa de sua resposta de emergência condenava à morte a maioria dos que estivessem naquele local na hora do desastre.
Leandro aponta como importante a descontrução dos discursos políticos preconceituosos que procuram vender a ideia de que as decisões a serem tomadas seriam exclusivamente técnicas e que os expostos não deveriam participar desses debates.
De acordo com essa perspectiva é importante dar voz às vítimas dos desastres, assim como incentivar a a adoção de estratégias de comunicação de risco e fortalecer os mecanismos de participação das populações nas decisões sobre risco.
O evento ainda contou com fala de representante do Movimento dos atingidos por Barragem relatando partes do trabalho que realiza em Mariana e em Brumadinho.
Em sua fala a representante do movimento destacou que passados os impactos imediatos das tragédias as populações continuam sofrendo. De modo perverso surgem indícios de que o ressurgimento de pressões em defesa da retomada das atividades econômicas da mineração nos municípios afetados acaba alimentando preconceitos contra as vítimas. Inclusive com registros de violência contra crianças e outras vítimas.
No caso de Mariana foi especialmente criticada a atuação da Fundação Renova, controlada pelas empresas que provocaram o desastre e que não só atua com extrema lentidão como trata as vítimas como aproveitadores.
Os debates destacaram como aspecto a ser esclarecido o da composição química dos rejeitos e a necessidade de estudos de saúde acompanhando possíveis efeitos em moradores e trabalhadores que atuaram no pós desastre. Bombeiros e universidades realizaram primeiros estudos visando a esclarecer a composição dos rejeitos. Sabe-se já da presença de ferro, alumínio, cromo e outros produtos. Mercúrio foi encontrado em pequenas quantidades e discute-se sua origem. Seria resquício de antigas atividades de mineração na região?
Esse é outro aspecto que precisa continuar sendo estudado para esclarecer em desastres como esses.
Botucatu, SP 31 de março de 2019
Ildeberto Muniz de Almeida (Paraíba)