Fórum AT divulga mensagem recebida de Eugênio, da Fundacentro MG.
Prezados(as) segue para conhecimento e divulgação:
Livro “Mar de lama da Samarco na bacia do Rio Doce: em busca de respostas”. Download gratuito!
O Observatório de Saúde do Trabalhador da UFMG, o Instituto Guaicuy e o Projeto Manuelzão lançaram essa semana o livro “Mar de lama da Samarco na bacia do Rio Doce: em busca de respostas”.
O livro conta com 17 capítulos construídos por 35 autores, e tem o objetivo de “contribuir para retratar, registrar e refletir um pouco sobre esse processo histórico do rompimento da barragem de Fundão, que ainda persiste, perdura e desafia a todos nós (inclusive aos leitores) a compreendermos e superarmos essa triste página da nossa história”.
Entre a produção do livro, finalizado em 2018, e este lançamento, ocorrido essa semana, tivemos outro triste episódio com o rompimento de outra barragem, dessa vez em Brumadinho, deixando quase 300 vítimas entre mortos e desaparecidos.
O livro publicado é, sem dúvidas, uma boa reflexão sobre o futuro da segurança na mineração. Faça o download dele gratuitamente aqui!
Livro “Mar de lama da Samarco na bacia do Rio Doce: em busca de respostas”. Download gratuito! – ERGONOMIA DA ATIVIDADE
att.
Eugênio Hatem Diniz
Skipe: eugenio.diniz22
Fundacentro-MG
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Apresentação do livro Mar de Lama
Apresentação do livro Mar de Lama
APRESENTAÇÃO
O rompimento da barragem de Fundão (RBF), operada pela Samarco, em Mariana - MG, no dia 5 de novembro de 2015, provocou a liberação de 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos. O material formou uma onda de aproximadamente 10 metros de altura, que deixou um rastro de destruição e morte por onde
passou. Dezenove pessoas faleceram e milhares de outras pessoas foram atingidas direta e indiretamente. Trabalhadores da Samarco e de empresas terceirizadas estão entre as vítimas desta tragédia. Houve destruição total de comunidades rurais, de terras férteis da agricultora familiar, além da contaminação de cursos
d’água da região, atingindo toda a extensão do rio Doce e provocando danos a cerca de 500 quilômetros de distância do epicentro do rompimento.
É possível afirmar que grande parte dos danos ambientais e sociais serão irreparáveis e permanentes, como as perdas de vidas humanas e dos ecossistemas. Esta não é situação isolada e sim, mais um capítulo que se repete na história da mineração em Minas Gerais. Aconteceu com a Mineração Rio Verde/ Nova Lima, em 2001, com a Mineração Rio Pomba Cataguases/Miraí, em 2007, e com a Mineração Herculano/Itabirito, em 2014.
Não podemos considerar esse evento como fatalidade, mas como uma tragédia anunciada. A empresa, ao construir grandes barragens, com sucessivos alteamentos, assumiu um grau de risco cada vez maior.
Na ocasião do desastre não havia nenhum plano de contingência a ser acionado, sequer um alarme. A perda de vidas só não foi maior devido à ação heroica e solidária de trabalhadores e pessoas residentes no local; além do rompimento ter ocorrido durante o dia, por volta de quatro e meia da tarde e não no período noturno.
Para que se estabeleça a verdade histórica, é preciso reafirmar que vítimas foram todos os que morreram, perderam os seus patrimônios e sofreram as consequências dos danos ocupacionais e ambientais, e não a empresa Samarco (BHP Billiton – Vale).
Um evento como o que ocorreu em Mariana alerta para as consequências ocupacionais, ambientais e humanas que podem ser geradas por uma gestão ocupacional e ambiental descomprometida com a vida, com o meio ambiente e com a saúde dos trabalhadores e da população.
Este desastre demonstrou a insustentabilidade da gestão ocupacional e ambiental ao identificar as falhas no processo de gestão, licenciamento, fiscali
zação, monitoramento, vigilância e no sistema de emergência. Todos estes processos foram incapazes de garantir a segurança do empreendimento, prevenir e evitar que não houvesse um evento dessa proporção. É impossível estabelecer ou buscar uma causa única para esta tragédia. Esta tragédia somente ocorreu
pela somatória de uma cadeia de eventos e fatores que precisam ser esclarecidos e divulgados para o público.
Além de respostas e reparação a todos os que sofreram diretamente e indiretamente as perdas de vidas humanas e ambientais, é fundamental que, a partir das investigações, haja uma revisão e criação de novas políticas e diretrizes sobre as atividades minerárias.
No momento em que assistimos, por todos os lados, movimentos de entidades empresariais que visam a desburocratização dos licenciamentos ambientais, é importante alertar que isso não pode ser motivo para atropelar as avaliações corretas do processo de licenciamento e que este não pode ser visto como um mero instrumento cartorial e lento.
Por fim, é possível afirmar que o desastre de Mariana será sempre uma lembrança dolorosa na história de Minas Gerais, uma cicatriz eterna e um alerta de que é necessário ter uma gestão ambiental verdadeiramente comprometida com a vida e o ambiente.
Esta publicação representa o esforço de um grupo de pesquisadores e representantes da sociedade civil sobre a interpretação dos fatos que levam ao rompimento da barragem de Fundão da Samarco, no distrito de Bento Rodrigues, localizado no município de Mariana.
Primeiramente, é importante destacar que, um dos principais objetivos desta publicação é fazer um registro histórico dos fatos ocorridos para que esta tragédia não se perca na memória coletiva da população. Inicialmente definido como acidente, posteriormente se caracterizou como uma tragédia para, por fim, se configurar como um crime.
Os diversos autores estiveram presentes na área desde os primeiros momentos após o rompimento e, portanto, tiveram acesso aos dados e investigações realizadas nos locais afetados, às populações atingidas, aos danos ambientais, especialmente aqueles causados aos cursos d’agua ao longo da bacia do rio Doce.
É importante afirmar que esta tragédia expôs a complexidade das relações entre capital/processo de trabalho/ambiente. Um efeito sistêmico dos danos expôs, com clareza, como o processo produtivo compromete, potencialmente, não só os trabalhadores que atuam diretamente dentro da área da empresa, mas também todos aqueles que estão inseridos em seu território de atuação.
O primeiro capítulo aborda a estruturação do setor mineral no Brasil, observando seus aspectos históricos, econômicos e sociais, bem como as políticas públicas que lhe fornecem a sustentação legal.
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No segundo capítulo, é feita uma análise que discute o conceito de acidente de trabalho dentro de uma visão ampliada, pois, claramente, o rompimento ocorrido não foi provocado por um cataclismo natural, mas por um processo de trabalho inseguro. Não podemos esquecer que 19 pessoas morreram, sendo que, a maioria era funcionários terceirizados que estavam trabalhando na base da barragem.
No capitulo três, o rompimento da barragem é analisado dentro do processo de organização da empresa, demonstrando os erros e as consequências nas tomadas de decisões que levaram ao evento fatal.
O quarto capítulo apresenta diagnósticos dos danos ambientais sistêmicos provocados no mês da ocorrência do evento. O objetivo é apresentar um “retrato” da real dimensão dos grandes danos causados e consolidados com o rompimento da barragem.
O capítulo cinco apresenta uma etnografia fotográfica do desastre documentando as situações dramáticas e chocantes do crime ambiental.
No sexto capítulo do livro são demonstradas as consequências do desastre para o ecossistema natural, especialmente no que se refere à recuperação de Áreas de Preservação Permanentes (APP), e veremos que não é simplesmente /plantando mudas que iremos recuperar ecossistemas destruídos.
No capítulo sete são analisadas as rupturas e cisões na produção socioespacial, demonstrando como a assimetria das relações de poder foram fatores determinantes para o rompimento da barragem.
O capítulo oito é um esforço acadêmico de abordagem do rompimento da barragem de Fundão à luz de um campo de pensamento inovador, francês, de prevenção a acidentes ampliados do trabalho.
Nos capítulos nove e dez, são apresentados os danos e os impactos à saúde dos trabalhadores e das populações atingidas pela lama e pela tragédia, bem como aspectos da organização dos serviços de saúde e dos cuidados em saúde prestados e a serem prestados.
O capítulo onze destaca e discute a questão da saúde mental, pois uma tragédia dessa dimensão causa um grande trauma nas populações que perderam familiares, seus pertences, suas propriedades, modos de vida, enfim, suas próprias histórias.
O décimo segundo capítulo discute o papel social da universidade como formadora de profissionais, produtora de conhecimento e executora de práticas de extensão num momento crucial da história do país em que, reflexões e respostas são fundamentais para o entendimento e atuação nesta questão que se revela sistêmica e complexa.
O capítulo treze aborda as lutas dos atingidos e de movimentos sociais envolvidos com o rompimento da barragem, trazendo seus olhares, pensamentos e ações, por vezes, descartados e desconsiderados nos processos de diálogo e
de negociação de um crime ambiental.
O capítulo quatorze, “Papo de Cumadres”, cria, por meio de diálogos elaborados em linguagem popular e jornalística, um pouco da realidade vivida e sofrida pelas populações tragicamente atingidas pelo rompimento da barragem.
O capítulo quinze analisa as ações e contradições do andamento do processo judiciário, relativo à questão da Samarco que, por vezes, demonstra a preponderância do poder econômico e sua influência ao longo dos processos judiciários.
No capítulo dezesseis é apresentada a questão da democracia socioambiental com sua trajetória de construção internacional e brasileira trazendo algumas das dificuldades para a sua efetiva realização.
O capítulo dezessete retrata um movimento parlamentar mineiro de tentativa de enfrentamento e de resposta frente ao rompimento da barragem de Fundão e de possíveis casos futuros.
Lamentavelmente, em 25 de janeiro de 2019, Minas Gerais (o Brasil e o mundo) se viram diante de mais um extenso e devastador ergoecocídio, em Brumadinho, na bacia do Rio Paraopeba/São Francisco.Neste livro, os organizadores se sentiram na obrigação de registrar, ainda que de forma bem preliminar, mais esta imensa dor e indignação e o fazem nos capítulos 18 e 19.
O processo que envolve danos sociais, ambientais, políticos, psíquicos e históricos tem se mostrado permanente, dinâmico e complexo. Seria impossível que uma única publicação fosse capaz de apresentar todas as relações existentes, até porque elas têm sido simultâneas e contínuas.
A organização e publicação deste livro é um esforço e um compromisso de professores do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, por meio do Observatório de Saúde do Trabalhador (OSAT) e do Projeto Manuelzão, com o apoio da Faculdade de Medicina/UFMG e do Hospital das Clínicas/UFMG. Este livro foi
possível porque contou com a colaboração decisiva de profissionais de outras instituições e de movimentos sociais. A todos os envolvidos, nossa gratidão!
Por fim, tentamos contribuir para retratar, registrar e refletir um pouco sobre esse processo histórico do rompimento da barragem de Fundão, que ainda persiste, perdura e desafia a todos nós (inclusive aos leitores) a compreendermos e superarmos essa triste página da nossa história.
Tarcísio Márcio Magalhães Pinheiro
Marcus Vinícius Polignano
Eugênio Marcos Andrade Goulart
José de Castro Procópio
Sumário do livro Mar de Lama
Sumário
Apresentação
Capítulo 1 - O mundo da mineração e o trabalho
Cláudio Scliar
Daisy Moreira Cunha
José Reginaldo Inácio
Capítulo 2 - O caso Samarco: um “acidente” de trabalho ampliado?
Tarcísio Márcio Magalhães Pinheiro
Jandira Maciel da Silva
Capítulo 3 - A análise da causalidade do “acidente” de trabalho da Samarco
Mário Parreiras de Faria
Marcos Ribeiro Botelho
Capítulo 4 - Os impactos, danos e perspectivas socioambientais na bacia do rio Doce do desastre da Samarco
Marcus Vinícius Polignano
Rodrigo Lemos Silva
Lucas Grossi Bastos
Capítulo 5 - No curso da lama: lugares, pessoas, ofícios, memórias, vidas, vozes...
Lilia Gomes Ferreira Menezes
Capítulo 6 - O maior desastre ambiental brasileiro: de Mariana (MG) à Regência (ES).
Danielle Letícia da Silva
Matteus Carvalho Ferreira
Olívia de Souza Heleno Santos
Flávio Avellar
Marina Marina Alves de Campos
Maria Rita Scotti
Capítulo 7 - Do sal da terra à sede do peixe: (des)governança, discurso e poder no desastre da Samarco/Vale/BHP
Lucas Grossi Bastos
Capítulo 8 - Barragem de Rejeitos de Fundão: um acidente organizacional?
Eugênio Paceli Hatem Diniz
Francisco de Paula Antunes Lima,
Marcelo Araújo Campos
Raoni Rocha Simões
Capítulo 9 - Os impactos à saúde dos trabalhadores e da população atingida pelo acidente de trabalho ampliado da Samarco, Vale e BHP Billiton
Aline Azevedo Lima
Marta de Freitas
Capítulo 10 - A lama da Samarco e a saúde dos atingidos
Diana Jaqueira Fernandes
Capítulo 11 - O cuidado em saúde mental da população de atingidos na tragédia da Samarco: reflexões a partir da práxis
Marcela Alves de Lima Santos,
Maíra Almeida Carvalho
Sergio Rossi Ribeiro
Capítulo 12 - O “Desastre de Mariana-Rio Doce”: Como as Universidades podem intervir?
CláudiaAndréa Mayorga Borges
Benigna Maria de Oliveira
Capítulo 13 - O rompimento de Fundão na visão do Movimento dos Atingidos por Barragens
Thiago Alves
Capítulo 14 - Papo de “cumadres”
Sérgio Papagaio
Capítulo 15 - A “justiça” no crime da Samarco
Gustavo T. Gazinelli
Capítulo 16 - O Acordo de Escazú e nossa democracia socioambiental não realizada
Edmundo Antonio Dias Netto Junior
Capítulo 17 - Mar de Lama Nunca Mais - a reposta da Assembleia
Legislativa do Estado de Minas Gerais
Marcus Vinícius Polignano
Capítulo 18 - Rupturas de barragens de rejeitos na mineração: um
crime contra a humanidade?
Jandira Maciel da Silva
Tarcísio Márcio Magalhães Pinheiro
Capítulo 19 - Rompimento de barragem da Vale em Brumadinho: uma consequência da crise mal resolvida de Mariana
Marcus Vinícius Polignano