Em sua passagem por Botucatu a Profª Margarida Barreto comentou mudanças recentes no mundo do trabalho e na vida em sociedade destacando o surgimento de fenômenos como a uberização (trabalho uberizado) e o surgimento do Hikikomori.
A uberização já foi discutida em reportagem do Le monde intitulada “Resistir à uberização do mundo”. O hikikomori é fenômeno primeiro descrito no Japão que aparece descrito em artigos como “Can Culture Create Mental Disease? The Rise of “Hikikomori” in the Wake of Economic Downturn in Japan” e outros.
Acredita-se que atinja mais de um milhão de jovens no Japão.
‘Os Hikikomoris são pessoas geralmente jovens entre 15 e 39 anos que se retiram completamente da sociedade, evitando contato com outras pessoas. Há casos extremos aonde filhos chegam aos 40 anos ainda dependentes dos pais e sem experiência profissional.”
A professora foi enfática em destacar relações entre esses fenômenos emergentes e o “desenvolvimento” de novas formas de acumulação flexível. Ela chamou a atenção para a necessidade de que os conceitos – seja aqueles usados para descrever o mundo do trabalho, seja aqueles usados para descrever seus impactos - não sejam tratados como coisas estanques e rígidas. Não se pode negar a história como uma criação humana
Para ela, trata-se de processo que está trazendo novos desafios para aqueles que se propõem a enfrentar o assédio moral nos dias atuais. As mudanças em curso no trabalho estão fortemente influenciadas por novas práticas de gestão / administração que usam distintas formas de violência para construir a dominação transformando o trabalhador em algo dividido, alienado, individualizado e adoecido.
A professora é enfática ao afirmar que não existe “organização neurótica” e sim modelos de gestão que pressionam seus gestores que por sua vez aderem a estratégias de repasse dessas pressões aos demais trabalhadores. Na origem dessas práticas destaca-se a financeirização da economia impondo “fundamentalismo de mercado”, o “‘mito da meritocracia” e o império dos interesses de lucros e dividendos imediatos.
Descontruir essa lógica exige denunciar o reducionismo de leituras que abordam o assedio como fenômeno individual, ligado a aspectos de uma personalidade perversa etc e abordá-lo nessa dimensão de fenômeno socialmente construído em estreita relação com o domínio do capital financeiro no atual estágio do capitalismo.
No modulo de encontros presenciais deste ForumAT há links para outras leituras afins.
Ildeberto "Paraíba"
- Efetue login ou registre-se para postar comentários