Aviso: esta matéria contém discussão sobre suicídio.
Um artigo recente, intitulado “Neoliberalismo, trabalho tóxico e a sombra da morte: suicidalidade oculta entre trabalhadores do setor financeiro da Austrália”, discute o impacto do neoliberalismo e de ambientes de trabalho tóxicos na ocorrência de suicídio entre trabalhadores do setor financeiro australiano, enfatizando a necessidade de novas perspectivas em prevenção do suicídio e saúde no trabalho.
O artigo acompanha as histórias de dez trabalhadores do setor financeiro que contribuíram para um portal do Sindicato do Setor Financeiro (FSU), criado para reunir depoimentos de trabalhadores para a Comissão Real Australiana sobre a Indústria Bancária e Financeira de 2018.
O estudo analisa o enquadramento histórico da suicidalidade relacionada ao trabalho e sua desconexão dos fatores laborais, destacando que os sistemas de compensação trabalhista historicamente priorizaram avaliações médicas em detrimento dos testemunhos dos trabalhadores. A priorização neoliberal das ideologias de mercado sobre o bem-estar dos trabalhadores obscureceu ainda mais a relação entre o trabalho e a suicidalidade.
Há também uma notável escassez de pesquisas na Austrália sobre fatores laborais que contribuem para a suicidalidade, sendo que as narrativas médicas predominantes continuam focadas na patologia individual em vez de considerar o impacto da governança corporativa e da cultura organizacional.
Os trabalhadores que contribuíram com o portal relataram experiências comuns — suicidalidade ligada ao ambiente de trabalho, práticas corporativas tóxicas, pressões por desempenho e injustiças gerenciais que agravaram seu sofrimento. Seus relatos revelam um padrão de sofrimento psicológico silenciado e ameaças de suicídio ignoradas dentro do setor financeiro.
Das 353 submissões recebidas pelo portal do FSU, houve 302 menções a tratamento injusto, incluindo assédio moral, e 267 referências à pressão por vendas, indicando uma cultura que prioriza metas comerciais em detrimento do bem-estar dos funcionários. Experiências comuns incluíam críticas constantes, microgestão, desumanização e ameaças de demissão.
O ambiente de trabalho tóxico nesses bancos foi caracterizado por gerencialismo, assédio e uma cultura do medo, em que os trabalhadores temiam retaliações caso denunciassem suas experiências. Esses relatos ilustram como práticas sistêmicas podem levar ao colapso da coesão social e ao aumento da vulnerabilidade à suicidalidade.
Os autores do artigo — John Bottomley, da organização Transforming Work, e John G. Flett, da University of Divinity — concluíram que há urgente necessidade de pesquisa e ação para enfrentar os ambientes de trabalho tóxicos no setor financeiro. Eles fazem um apelo para que sindicatos e pesquisadores colaborem na melhoria das condições de trabalho e no apoio aos trabalhadores afetados.
Leia mais: Neoliberalismo, trabalho tóxico e a sombra da morte: suicidalidade oculta entre trabalhadores do setor financeiro da Austrália – Flett & Bottomley.
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