O AFT Airton, lá das Minas Gerais pescou essa que espero que seja comentada. A conclusão é uma pérola de atribuição de culpa à vítima e de incompetência ou ma fé dos autores.
É preciso muita cara de pau para se fazer algo desse quilate
São muitas as possibilidades de comentário a essa pérola. Um dos caminhos, seria o de "olhar" o aconteceido com a ajuda de conceitos indicados para uso em análise de acidentes. No modelo de análise e prevenção de Acidentes (MAPA) são sugeridas três muletas iniciais mais diretas, a saber:
1) a da atividade ou trabalho real com suas variabilidades e ajustes suscitados e suas relações com a segurança
2) a da análise de barreiras e
3) a da análise de mudanças.
De modo indireto, o Mapa também recomenda caminho da ampliação conceitual da análise que poderia ser aplicada nesse caso recorrendo a uma das opiniões de Sidney Dekker. ele afirma que ao invés de julgar (como feito na conclusão - fez o que não devia, o não lhe era prescrito e acaba a conversa) o que foi feito pelo acidentado na situaçao do evento, caberia à equipe de análise explorar e explicitar as razões que o levaram a considerar que fazia sentido agir como ele fez. Há que se colocar no lugar do outro.
Isso implicaria enxergar que, se o acidente aconteceu quando o trabalhador fazia algo não incluído em sua atividade prescrita, ele aconteceu quando da existência de uma mudança no sistema. A engenharia de produção, a Ergonomia e outros campos do conhecimento ensinam há anos que o Trabalho muda. E que cabe aos trablahadores detectar, diagnosticar e corrigir, quando necessário essas mudanças. Fazer a análise de mudanças não é apenas identificar a mudança mais próxima do desfecho do evento. Essa mudança deve ser o ponto de partida de exploração que vise responder as razões do sistema associadas às origens e à eventual persistência dessa mudança. Esse é um caminho que tende a ser muito revelador de aspectos da história do sistema que poderiam estar ocultos. e por aí vai!
A situação descrita acima também poderia ser abordada a partir do estudo do trabalho real do acidentado e de suas variabilidades mais frequentes. Não é comum que a análise revele que aquilo que o trabalhador fazia já tinha sido feito antes, por ele, por colegas etc e até com o conhecimento e consentimento da chefia. Só que nas vezes anteriores o mais comum era desfecho de acordo com objetivos da produção.
A conclusão mostrada no documento só é mesmo pior quando a equipe que a realiza sabe da verdade e renuncia a seus deveres de atuar pela prevenção para submeter-se a interesses de defesa jurídica da empresa. Atuando por medo ou pior ainda, de modo consciente. Quando se dispõem a agir de modo ideológico como em tentativa de reprodução de uma abordagem defasada e sem contribuição para a segurança. E agindo com a autoridade técnica de um pseudo especialista na matéria.
Até quando?
Pb (Ildeberto Muniz de Almeida) (botucatu, 13/03/2015)
Da série: como não analisar um acidente.
São muitas as possibilidades de comentário a essa pérola. Um dos caminhos, seria o de "olhar" o aconteceido com a ajuda de conceitos indicados para uso em análise de acidentes. No modelo de análise e prevenção de Acidentes (MAPA) são sugeridas três muletas iniciais mais diretas, a saber:
1) a da atividade ou trabalho real com suas variabilidades e ajustes suscitados e suas relações com a segurança
2) a da análise de barreiras e
3) a da análise de mudanças.
De modo indireto, o Mapa também recomenda caminho da ampliação conceitual da análise que poderia ser aplicada nesse caso recorrendo a uma das opiniões de Sidney Dekker. ele afirma que ao invés de julgar (como feito na conclusão - fez o que não devia, o não lhe era prescrito e acaba a conversa) o que foi feito pelo acidentado na situaçao do evento, caberia à equipe de análise explorar e explicitar as razões que o levaram a considerar que fazia sentido agir como ele fez. Há que se colocar no lugar do outro.
Isso implicaria enxergar que, se o acidente aconteceu quando o trabalhador fazia algo não incluído em sua atividade prescrita, ele aconteceu quando da existência de uma mudança no sistema. A engenharia de produção, a Ergonomia e outros campos do conhecimento ensinam há anos que o Trabalho muda. E que cabe aos trablahadores detectar, diagnosticar e corrigir, quando necessário essas mudanças. Fazer a análise de mudanças não é apenas identificar a mudança mais próxima do desfecho do evento. Essa mudança deve ser o ponto de partida de exploração que vise responder as razões do sistema associadas às origens e à eventual persistência dessa mudança. Esse é um caminho que tende a ser muito revelador de aspectos da história do sistema que poderiam estar ocultos. e por aí vai!
A situação descrita acima também poderia ser abordada a partir do estudo do trabalho real do acidentado e de suas variabilidades mais frequentes. Não é comum que a análise revele que aquilo que o trabalhador fazia já tinha sido feito antes, por ele, por colegas etc e até com o conhecimento e consentimento da chefia. Só que nas vezes anteriores o mais comum era desfecho de acordo com objetivos da produção.
A conclusão mostrada no documento só é mesmo pior quando a equipe que a realiza sabe da verdade e renuncia a seus deveres de atuar pela prevenção para submeter-se a interesses de defesa jurídica da empresa. Atuando por medo ou pior ainda, de modo consciente. Quando se dispõem a agir de modo ideológico como em tentativa de reprodução de uma abordagem defasada e sem contribuição para a segurança. E agindo com a autoridade técnica de um pseudo especialista na matéria.
Até quando?
Pb (Ildeberto Muniz de Almeida) (botucatu, 13/03/2015)